Tira o sofá da sala!
"Quanto à coerência no comportamento humano, nunca existiu: quanto mais paradoxal, mais humano. E em se tratando de fé, então, razão e sanidade muitas vezes passam ao largo. Quando passam. Há alguns dias assistimos ao espetáculo da santa que apareceu na janela de uma casa em Ferraz de Vasconcelos, interior de S. Paulo, fato este devidamente explorado pelos católicos de plantão Gugu, Ratinho e Hebe, que já é quase uma santa. Sempre muito emocionada, Hebe tem fé de que ainda porá Nossa Senhora de Fátima sentada no sofá, entre um Bruno e Marrone e um Alexandre Pires, como mais uma atração.
— Não duvido nada se um dia a imagem da santa aparecer impressa naquele sofá — vocifera colérica tia Norma. — O pessoal ainda vai sentar em cima dela — pragueja.
Tia Lola acredita que Ratinho, que também é extremamente religioso, não descansará enquanto não levar a santa no programa dele. E submetê-la ao teste de DNA, pra ver se ela é santa, mesmo. E ai dela se ela não for!
(...)
Bem diferente do que li outro dia na coluna social. Dizia que (sic) “Fulaninha de tal reuniu em sua casa um grupo de amigas para receber a visita de Nossa Senhora de Fátima. A santa foi levada em procissão por seis rapazes, leigos de vida consagrada, que vivem em comunidades espalhadas pelo Brasil. A chegada deles foi um espetáculo. Usando túnicas com um grande crucifixo aplicado no peito, botas pretas de cano alto e rosários na cintura, eles pareciam saídos da Idade Média. Gisela, Evinha, Moema e Helô, entre outras, rezaram, contritas. Julio Lopes, em campanha, também apareceu, mas não distribuiu santinhos. Enquanto todas as devotas iam até os pés da santa, em clima solene, Narcisa, com
look ainda
sixties da festa da Ilha Fiscal, inovou. Abriu os braços como Elis Regina quando cantava ‘Arrastão’. Detalhe: Laurinha Pederneiras preparou delícias para antes das preces: tempura de brie, no palitinho, salmão enrolado em biscoito, folheado de lagosta e
cheesecake com calda de amora, além de torta de pecan e musse de chocolate.” Menu para teólogo algum botar defeito, que elas não são cristãs de só comer pão ázimo e tomar água."
Mauro Rasi, em sua coluna no
Globo.